segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

Triste fado

Estou sentado em frente ao espelho. À espera para cortar o cabelo. A senhora com a tesoura na mão diz-me:
- Tudo bem consigo?
- Tudo - respondo. Sem dizer mais nada. Não me apetecia prolongar aquela conversa de ocasião, que se tem quando nada há a dizer.
Ao meu lado, a duas cadeiras de distância, uma senhora de idade com um género de capacete na capacete na cabeça vociferava:
- Isto o país está muito mal. Não sei onde isto vai parar.
A conversa do costume. Do tudo vai mal. A mesma conversa que oiço os meus pais a terem quando me sento à mesa para jantar: - O país está-se a afundar- dizem eles. Oiço estas palavras com alguma indiferença, porém não posso deixar de ficar ansioso por momentos. Aquela ansiedade de quem não sabe o que lhe espera no futuro. De quem pensa que o futuro não é risonho, mas sombrio. Ou não será este o triste legado que nós portugueses carregamos ao longo de gerações? Passassem apenas uma semana na Suécia e dariam graças pelo simples facto de o sol raiar mais de uma hora por dia, ou de não ter temperaturas negativas.
E a senhora de cabelos encaracolados e curtos, com os dentes tortos, continuava atrás de mim com a tesoura na mão, a cortar pedaços de mim, e eu tal qual de inicio, mantinha-me em silencio. Esboçando por vez, um sorriso. Não tinha nada a falar com ela. Não me apetecia corroborar com aquela velhota ou com os meus pais, e dizer que o país está mal ou que chove lá fora. Isso já ela sabe. Isso toda a gente sabe. Não é novidade nenhuma.

1 comentário:

Grande Querida disse...

então porque falar nisso? este post.. quere me parecer q não está acabado..

beijinho bom!