segunda-feira, 10 de novembro de 2008

Histórias de vida

Estocolmo, 31 de Outubro de 2008

Aqui cheguei e daqui parto, deste pequeno terminal, que como o nome indica, onde tudo termina, onde tudo se desvanece...
Quando cheguei, como sempre chego a um destino de viagem, trazia a mala cheia de expectativas e vontade de conhecer o desconhecido, agora parece que a mala vai mais pesada (guardando as memórias) e ao mesmo tempo mais leve (gente que ficou). No dia em que cheguei estava sol e tudo muito claro, tudo mais bonito - as pessoas, os pássaros, as árvores, as ruas. Agora chove e está sombrio, deixei de ver aquelas pessoas bonitas na rua a passar, os pássaros provavelmente estarão escondidos nos ninhos, as árvores perdem as folhas a uma velocidade alucinante e as ruas mais vazias, ou será apenas de mim que estou a ver as coisas de outra forma e nego a realidade que se me depara?
Talvez por ansiedade de separação ao que outrora nos foi prazeroso não queremos ver as coisas como elas são, ou então pensar que voltaremos aquela rotina diária, ROTINA?esta palavra assusta-me, dá-me os piores pesadelos, pois o meu espírito é livre e tem medo de ficar enjaulado pelo terror do quotidiano. Olho para a rua, através da minha pequena janela, e vejo pessoas, pessoas iguais mas não individuais, pessoas iguais a todas as outras, rindo, gritando, chorando, mas sempre iguais, a caminho do trabalho sempre com a mesma cara, todos os dias à mesma hora, com a mesma pasta na mão, vão apanhar o mesmo metro, o mesmo comboio ou o mesmo autocarro de sempre, mais tarde vão buscar os filhos á escola, levá-los a casa, chegar a casa e ver a mesma mulher de sempre, perguntando: "como foi o teu dia?", "foi bom, igual a todos os outros, e de vez em quando la se conta um episódio ou outro engraçado que ocorreu no trabalho e pouco mais, os filhos esses são relegados para os seus quartos para fazer os deveres, e os deveres dos pais quem os faz?Sim o de brincarem com os filhos, de falarem sobre como foi o seu dia de aulas. Desse dever ninguém se lembra, ou não é um dever dos pais?Sim porque os pais é que mandam, eles ditam as leis da casa, e de vez em quando ficam muito chateados porque os filhos não estudam, não arrumam a casa e só querem ir para a internet e jogar computador. Pois já pensaram que o que eles querem é estar convosco? Saber mais da vossa vida e que vocês saibam da deles, acho que não é pedir muito ou é?
Entretanto la chega a hora de jantar, mandam-no sentar a mesa e ele não vem logo, que problema, o mundo pode acabar a qualquer momento, ficam furiosissimos e vão buscá-los ao quarto porque estão a ser mal-educados e não obedecem ás suas leis (e vocês cumprir o vosso dever?se não cumpriram, então não se admirem). Depois das 3 uma, ou realmente falam com os filhos e preocupam-se, ou então ligam a televisão e nem falam, ou então perguntam como correu o dia, mas rapidamente mudam de assunto e começam a falar sobre outras coisas. Portanto se os vossos filhos apresentarem problemas na escola, em casa, ou até na rua não fiquem espantados disto acontecer, e não se esqueçam que os miúdos tendem a repetir comportamentos observados pelos outros , seguindo um padrão modelo daquilo que vêm em casa...

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